Sempre me pareceu terrível pensar que posso desaparecer a todo o momento, que só me cabe esta vez e que nunca vou voltar. De modo que, de certa forma, reconciliei-me com esta ideia, situando-me a mim e à minha breve existência dentro de um contexto maior. Treinei-me a aceitar que não passo de uma ínfima peça da grande aventura da vida, uma parte fugaz de algo que ainda é maior e mais poderoso que eu. Desta forma tentei ampliar a minha identidade, o meu próprio ser, sempre á custa do eu pequeno, esse eu que de um momento para o outro pode ter o mesmo fim que o pequeno corço, o ungulado morto que me pesa algures no meu subinconsciente e nunca se levanta ou se mexe. Continua a ocorrer-me todas as manhãs que só sou eu, e que só estou aqui agora, que só somos tu e eu que temos a consciência que o mundo tem de si mesmo.
Jostein Gaarder in Maya
Não nos cabe só uma vez, a expiação é longa demais para só uma vida. Mas é um belo exercício de viagem para fora de si mesmo, uma sensação difícil de explicar, que só me aconteceu uma vez na minha vida e foi tão inquietante, que me deixou desconfortável na minha própria pele durante muito tempo. A sensação de sairmos de nós, nos olharmos e dizer 'tenho consciencia de mim no Cosmos', sou uma pessoa num mundo amplo até à infinitude...
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