Caminhando ao longo do carril, antecipando o trajecto do comboio. Brincando com a grande sombra, sem medo face às grandes ravinas, mas soçobrando nos pequenos desníveis. Um pássaro pousa nas linhas de alta tensão. A vida observa, partilha o eco de consciência e adensa a voz interior mas, de facto, não vê. Nada perscuta além da superfície. Também este não quer ver, quer tornar o avanço do comboio seu. Assim como quer que sejam suas as patas que tocam o fio de alta tensão. Aglutinar a sucessão imparcial e inexorável da vida. Assumir a sua indiferença. O Universo não tem olhos. O homem é o olho do universo e olha-se a si mesmo. E esse olhar dói, corrói, corrompe.
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