quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Estação do agora

Está calor e o ritmo da natureza está em abrandamento depois de chegar à saturação. Abranda de forma imperceptível, é como se um grande terramoto tivesse acontecido no mar e, de longe sussurrando, a morte em forma de onda estivesse a caminho. Tudo que havia para crescer e frutíficar, agora permanece a prazo, porque a morte lenta mas inexorável está a chegar. Tudo é mais bonito e colorido porque vai morrer em breve, mas este é o momento em que tudo se exibe no frenesi de vida e luxúria. É estranho que neste clima de auge, tudo esteja, afinal, em suspenso. É isto que sinto, uma suspensão de vida, um antecipar agonizante sobre o que está para vir. Vejo-os a todos e parecem uma manada de búfalos incautos, pastando na savana: um, mais sensível, ouve um galho a quebrar-se, uma estranha vibração npo solo, um odor inebriante a perigo e a lascívia. Este animal sensível vai correr pela vida até ao último fôlego, até ao último pulsar, a diferença é que este tem medo antes de todos os outros. Ai chegará o tempo da carestia. O paradigma da sobrevivência do mais forte já caiu, durante anos imperou a selecção do mais adaptável e agora, além da míngua de tudo, carece um paradigma de homem melhor. Será aquele que luta melhor ou aquele que se esconde melhor?

Aproveitem todos este tempo de vida suspensa, animada pela pena da ilusão. Este meu tempo de suspensão, uso-o invejando a vossa calmaria, uso-o aninhando-me no esquecimento dos dias, dou o meu corpo à preguiça e ao calor. A minha mente, ponho-a a dormir mas a minha alma pressente este murmúrio fétido, este segredo de abismo.

Setembro, tempo de colher e de guardar. Assim vai o meu tempo de espera, a minha quarentena do mundo.




Sem comentários:

Enviar um comentário