quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Metamorfose adiada

Vargas Llosa dizia que a música ajuda a entender as verdades amargas. É bem verdade. Eu queria ouvir uma música e deixar-me ir nela, abandonando-me ao sentimento que nela perspassa. Queria um desprendimento do corpo, uma certa transparência de alma. Talvez esta dor recente, não seja a tristeza dos dias, destes dias de sonhos vencidos, de violência, de insanidade colectiva, talvez seja um sintoma de uma alma que pesa com o peso do tempo que não muda. Talvez esta tristeza seja uma pele velha e caduca, que se retesa como couro ressequido ao sol, mas não se rompe.

Esta deriva sobre a tristeza, esta demanda em persegui-la, em aprisionar-lhe o sentido, talvez seja a forma errada de combatê-la. Não será até o combate a verdadeira cura. Tenho de deitar-me com esta tristeza, contemplar o seu corpo, deleitar-me com a sua argúcia, teimosia, paciência. Deixá-la reinar sem amarguras, sem revoltas. É o tempo dela, será companheira natural. Tentar não fazer da tristeza o meu carrasco, deixá-la instalar-se devagarinho. E, quando chegar a hora, estar preparada para a deixar partir...




2 comentários:

  1. Fico preocupada contigo! Não era altura para estares a fazer a metamorfose, altura em que se avizinham novas buscas, novos sonhos e novas aventuras. Entrega o teu corpo e tua alma nelas...

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  2. Rita, não há motivo para preocupações. A tristeza já não é pública. Neste momento é um íntimo murmúrio, que ouso partilhar aqui. A tristeza às vezes é inevitável e precisa. Vou entregar o meu corpo e alma às aventuras que se seguem, tudo é o que tem de ser. Um bjinho querida amiga

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