Cada pessoa é um mundo em si mesma e, por vezes, na sucessão de dias que é a vida, tudo o que vemos são os limites de cartão deste mundo. As proporções são estranhas, as fronteiras definidas mas estreitas, as tristezas verdadeiros naufrágios e, as alegrias, são como encontrar uma pérola dentro de uma concha. A perspectiva tudo reveste de ilusão e engano, a posição relativa de cada um no seu mundo é uma alegoria da cebola. Disposta em camadas, cujas dimensões não são claramente definidas, mas existindo um certo individualismo. Às vezes, a relação com os outros é como uma pele disposta em sobreposição, aderente e deslizante, demasiado próxima para ser distinguida. Por vezes, é uma casca grossa, resistente, divorciada de tudo o que jaz imeditamente inferior e superior, para dentro e para fora.
Viajar, é ver o nosso mundo inscrito noutros mundos. É como se uma onda gigante inundasse o convés o barco onde, através de um telescópio, observávamos o mundo e, depois de um momento de quase afogamento, vissemos com clareza, sem que um véu de vidro nos ofuscasse a vista. Para ver em claro, é preciso viajar. Ser viajante é mudar a perspectiva, é por-se na linha da frente de batalha, é expor-se ao desconhecido. É encarar a nossa pequenez com desprendimento, é entender que cada viagem é uma oportunidade de mudança, é perder a ingenuidade sem abdicar da transparência.
Eu pertenço aos agricultores deste mundo. Gosto de semear, de cuidar, de ver crescer. Tenho a força para aceitar que nem sempre há colheita, que há forças que não podem ser contrariadas. Tenho a perseverança para tentar uma e outra vez, porque assim é a minha natureza. Mas a maior parte do tempo, suspiro por florestas escuras, pelo prazer do risco, pela sedução do perigo. Viajo porque é visceral o gosto pelo inesperado, é excitante e vivificante. Mas, para a minha alma expectante, o melhor de viajar é sentir que há um lugar que nosso a que podemos voltar, não obstante a sua pequenez e insignificância. Há um lugar de cheiros almiscarados, de arestas de pedra que emanam um certo calor conhecido, o prazer de ver que há um pouco de nós impresso em cada árvore, em cada som, numa cama com lençois lavados. Aqui é a nossa casa. Regressar a casa é sentir que não há vergonha, não há distância, não há desejo. Aqui tudo é seguro e tranquilo. Aqui não há lobos.
Gostei post... de facto é muito bom voltar a casa ao nosso porto seguro! Mas acho que melhor que voltar é ir... é muito bem sair do nosso mundo e ver em grande dimensão outras perspectivas que ainda não tínhamos descoberto!
ResponderEliminarAdoro viajar... só queria era poder fazê-lo mais vezes!