Mais uma vez, caminhando ao longo da praia, tive a sensação que estava sentada na poltrona do mundo, observando tudo e observando-me. Não me senti vazia, ao invés, subveio a tristeza já constante e familiar, a tristeza do mundo, a melancolia das coisas belas.
A Teoria das Cordas pertence à esfera da Física, mas quase que pude dissertar uma teoria das cordas pessoal, que explicaria aquele momento e serviria de metáfora à minha vida. Sinto o tempo como uma corda vibrante dentro de mim, aliás várias cordas retesando-se, ainda não no limite da sua extensão, mas vibrando: a passagem do tempo é como uma sirene de ambulância ao longe. É uma urgência permanente, mas afinal nada surge ao fundo da rua. Há um frémito distante, ecos de um acidente trágico ou de uma festa de arromba, mas nada acontece em mim ou suficientemente perto de mim. A areia são milhões de cordas dos eventos passados, deste concurso de eventos mais ou menos esperado que culminou na minha concepção e nascimento. Mais do que isto, grãos de areia são os eventos vitais da evolução de tudo que é inerte e vivo porque, no limite, tudo conflui para a existência de tudo. Nada é fortuito, nada. Uma intersecção de cordas conduziu a este momento perfeito: uma melodia de fundo, ritmicamente as ondas debruçam-se na praia, as rochas permanencem e interferem, dois cavalos de cores diferentes trotam junto à linha de água, uma igreja de tributo, pessoas e mais pessoas e eu e as minhas lágrimas, porque tudo isto me comoveu. É então que um sentimento muito humano me atinge - vergonha - porque alguém me pode ver e não vê o que está cá dentro - afinal o que está fora é bastante ridículo. Não é bastante não ser cego para não ver; é preciso também não ter filosofia nenhuma. (AC)