domingo, 29 de abril de 2012

Here comes the sun

Mais uma vez, caminhando ao longo da praia, tive a sensação que estava sentada na poltrona do mundo, observando tudo e observando-me. Não me senti vazia, ao invés, subveio a tristeza já constante e familiar, a tristeza do mundo, a melancolia das coisas belas.

A Teoria das Cordas pertence à esfera da Física, mas quase que pude dissertar uma teoria das cordas pessoal, que explicaria aquele momento e serviria de metáfora à minha vida. Sinto o tempo como uma corda vibrante dentro de mim, aliás várias cordas retesando-se, ainda não no limite da sua extensão, mas vibrando: a passagem do tempo é como uma sirene de ambulância ao longe. É uma urgência permanente, mas afinal nada surge ao fundo da rua. Há um frémito distante, ecos de um acidente trágico ou de uma festa de arromba, mas nada acontece em mim ou suficientemente perto de mim. A areia são milhões de cordas dos eventos passados, deste concurso de eventos mais ou menos esperado que culminou na minha concepção e nascimento. Mais do que isto, grãos de areia são os eventos vitais da evolução de tudo que é inerte e vivo porque, no limite, tudo conflui para a existência de tudo. Nada é fortuito, nada. Uma intersecção de cordas conduziu a este momento perfeito: uma melodia de fundo, ritmicamente as ondas debruçam-se na praia, as rochas permanencem e interferem, dois cavalos de cores diferentes trotam junto à linha de água, uma igreja de tributo, pessoas e mais pessoas e eu e as minhas lágrimas, porque tudo isto me comoveu. É então que um sentimento muito humano me atinge - vergonha - porque alguém me pode ver e não vê o que está cá dentro - afinal o que está fora é bastante ridículo. Não é bastante não ser cego para não ver; é preciso também não ter filosofia nenhuma. (AC)


3 comentários:

  1. Labirinto!

    Homem tu que sabes e que sabes que sabes, tu que és dotado de consciência, tu que tens noção da finitudade da vida tal como a conhecemos, porque queres viver? porque te moves, porque te reproduzes? há sentido na tua vida? vale a pena viver?...labirinto, quando a linha reta da vida de modifica criando uma complexidade crescente na vida do homem! É nesse labirinto que encontramos a liberdade se nos esforçarmos muito. Depende quase sempre exclusivamente de nós próprios, por pior que seja a contingência...

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    1. A vida: um labirinto fruto da ignorância. Se soubessemos tudo talvez a vida fosse mesmo uma linha recta infinita, constante, sem início ou fim definido...aliás se pudessemos realmente compreender tudo, a noção do tempo e do espaço seria completamente diferente, talvez difícil de conceber neste momento, limitados como estamos. Às vezes penso que os únicos momentos sem labirinto são aqueles em que amamos...porque quando amamos acho que sentimos que não há finitude para este sentimento, é um certo senso de eternidade e de...liberdade. Penso que é essa a liberdade que detemos. Tudo o resto são contingências labirínticas... e as escolhas? Serão livres? Estou com Che nesta...sou livre quando luto e quando amo...
      p.s. não há erros ortográficos :)

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