quarta-feira, 25 de abril de 2012

Travessia no deserto: 40 dias de penitência e solitude

40 dias é claramente metafórico. Mas olhar a aparente inércia como um espaço finito e um tempo definido ajuda-me a perseverar neste marasmo. 40 dias de penitência por não me conhecer inteiramente. Quanto de nós conhecemos pela experiência e quanto conhecimento resulta da viagem a si mesmo? Que fronteiras estarei a evitar, que limites não atinjo mantendo-me nos labirintos do meu eu?

40 dias de espectadora atenta do desfilar de eventos fisiológicos, cujos mecanismos compreendo mas não domino. Respirar, ingerir, desgastar, eliminar, cuidar, fazer crescer e prosperar, limitar e controlar, tudo isto divinamente orquestrado e mesmo assim não é suficiente. Não é suficiente porque o que o sopro que me anima está morto, e tudo é calmaria por aqui.

Esta é a minha travessia no deserto. É meu caminho, mas não é o meu Graal. O meu tesouro está soterrado neste deserto e posso bem não encontrá-lo. Ou pior ainda, encontrá-lo e não o ver.

Esta é a minha travassia no deserto. Só espero não me tornar areia.

Bem a propósito, Álvaro de Campos diz:

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo,o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque dali se vê tudo, e tudo morreu.


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