Pode um homem estar demasiado habituado a si mesmo, cansado de beber de dentro das suas palavras, comer dos seus frutos, de consumir como desenfreado do arquivo dos seus sonhos? Estará o homem, ou uma mulher como eu, demasiado embrenhada nos seus labirínticos motivos, com o seu discurso de mesmice, permitindo condescendentemente os seus erros, a sua libertinagem, os devaneios da sua solidão?
Caminhei tão longas veredas, escalei tão escarpadas montanhas, repetindo a mim mesma que a dor aguça o engenho num produto melhor, inacabado mas bom, apto à grandiosidade, para afinal perceber que apenas conduziu a um estado de embaraço, de enfado, num desfiar de maus humores, de nenhures entediantes e irritantes?
Estarei há demasiado tempo entregue a mim mesma? Poderei ainda esperar do outro paciência para desfiar a corda de egoísmo que me enforca, a crença que, desenterrando as camadas de pó dos dias, dias longos e embirrentos, jaz um ser nu e vulnerável?
Caminhei pensando que me desnudava do supérfluo, do lixo da vaidade, do hábito, da cadência do tédio, quando afinal estou vestida como nunca...
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