Fim de Abril.
Frio intenso, que de lúgubre se veste pela manhã e de tristeza se cobre ao entardecer, para dormir.
Frio que mumifica os ossos, ressequidos, por uma sede qualquer.
Nunca saciada, lábios que se colam entre si, entreabrem-se em lascas de pele densa, como asas de moscas que jazem inertes no papel de uma criança; onde desenha, numa aparente ingenuidade, carros e flores e casas e sorrisos, com amarelos e vermelhos enfatuados.
Pele que se desprega sem suor, rugas que se traçam como sulcos impossíveis, um rio que há milhões de anos se insinuou na montanha.
Um cansaço velho como o mundo, que tomba os joelhos como banha que se derrete ao fogo brando e subjuga os ombros num ângulo de doloroso abandono.
Há uma eterna despedida em seus passos, como se cada avanço fosse uma canção, que baixinho entoa adeus, adeus, adeus...extenuantes sussurros, incessantes, ciciam a eternidade.
É um velho dizem alguns. Eu vejo, e digo, é um jovem. É um jovem de hoje que ontem nasceu velho.
Tudo tem o odor do que é antigo, ou pior, do que já não tem serventia, que é como ser velho antes do tempo. São pessoas e são coisas vazias num sótão de cartão. E tudo está recoberto com poeiras de mal-entendidos e de ressentimentos.
É preciso um pelotão de fuzilamento. É preciso morte violenta para se começar limpo.
É preciso deixar a velhice do tempo, do espaço e das coisas esquecidas e voltar a nascer.
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