quinta-feira, 6 de março de 2014

Caminhar nos teus sapatos

Meti-me nos teus sapatos, num esforço sobre-humano para afastar o meu individualismo. Despi-me de mim, dos meus sapatos gastos e com remendos, mas fortes sobre a terra que calcam, enraizados como a mais velha das árvores, na sua vontade férrea em sobreviver. Expus os meus pés dentro dos teus sapatos, com dificuldade, porque não conhecem as suas reentrâncias, os sítios especiais cheios de calos da vida e de outros precalços. Meti-me adentro de ti sem medo, porque preciso de sentir como tu sentes, pisar como tu pisas as coisas, como galgas os obstáculos e te desvias das poças de chuva. Preciso de caminhar sobre aquele rasto que percorres todos os dias, com o peso das tormentas que se abatem sobre ti. Preciso de conhecer como lutas contra o vento desviante, como manténs a direção inexorável para o horizonte que persegues.

Preciso de calçar os teus sapatos, para te compreender e te perdoar. Porque estou cheia de mim e das minhas coisas e não alcanço mais nada. Já não caminho com os meus; hesito num plano incerto, náufrago na sua indecisão. Os teus sapatos têm um norte, e quero tatuá-lo na planta dos meus pés, para já mais me perder de ti.

Hoje, caminhamos juntos, eu em ti, tu em mim. E iremos aprender juntos. 

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