Começar no fim é caminho de sabedoria: Começar recolhendo fragmentos e de mãos vazias, é desbravar com medo mas sem hesitações. No fim, não há esperanças, nem forças, nem pensamentos; há apenas instinto, o impulso mais primitivo e poderoso que existe. O impulso primordial de avançar, de perseverar de sobrevir. Porque a vida tem um fluxo independente de todo desígnio consciente. A vida impõe-se, derrama-se mesmo quando a área de manobra é infinitamente pequena. A vida é imparável, mesmo quando estamos em morte consciente. É no fim que esta vida se revela em todo o seu esplendor: é força pura, mansa ou revoltosa. Quando o pensamento adormece, o coração cristaliza, o corpo mirra e é massa inerte que pulsa sem ânimo, a vida acontece. É no fim que recomeçamos; é no fim que podemos recriar. Prefiro este fim a uma vida remendada, a viver com xarope em suspensão, tomado aos soluços, lenitivo entorpecedor, repugnante, um asco de si mesmo, um tédio de si. Venha ele, o fim. Estou preparada.
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