Um rio subterrâneo voluntaria-se em mim. Navega nas escarpas, ganha corpo e membros, mas nunca aflora a superfície. Meu rio é caprichoso: tem pedras e ilhotas de areia e juncos, quiçá movediças; tem pepitas de ouro e muitos anos de garimpo se passaram e a febre do ouro esgotou partes deste leito e, aqui, nada brilha ao olho nu. Dantes, há muito tempo, tinha rápidos e cascatas, a impetuosidade revolvia o solo e plantas e pequenos crustácios flutuavam felizes: a abundância alimentava pequenos mas eram muitos os saciados. Meu rio tinha água fresca e pura, água que lavava, não gelava, nesta água, muitas coisas o foram e o eram e o são, porque os tempos se misturavam: nada resistia ao seu fluxo vigoroso e sim, eu era eterna. Agora, meu rio morre e move-se num sussurro. Minha água gela e queima, vive ao sabor das contantes de superfície, ele, o rio, que é subterrâneo. A ironia é impiedosa.
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