quinta-feira, 12 de julho de 2012

Reflexo ancestral

É assim que gosto mais de me ver: um fio de luz que me atravessa, uma luz que vem de dentro e que se derrama, uma ténue claridade que o foco quer prender na posteridade, um segundo que desafia o movimento.

Contemplar, ainda que por breves instantes, a luz que temos em nós e que resvala na vida, recorda-nos um plano primordial e longínquo, o plano A. No início, todos éramos perfeitos. Há um nascimento imaculado para cada um de nós: houve um momento em que todos fomos puros, e não havia passado nem futuro. Esta saudade, esta perda primitiva está inscrita de forma indelével em cada átomo do nosso ser. É por este recém-nascido que suspiramos, é esta promessa de tudo o que é bom, íntegro e inocente que tentamos ver no espelho, que acreditamos até ao último instante que ainda existe.  

O regresso ao princípio, quando este principia exactamente no fim. O resultado é a que a saudade jamais desaparece.

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