domingo, 17 de fevereiro de 2013

Numa gaiola dourada

6 minutos e alguns segundos para reatar a minha relação adormecida, pelos lenitivos psiquiátricos e outros subterfúgios de felicidade, com as palavras. 6 minutos para escrever com verdade, sem tristezas, tacteando o véu de artificial estabilidade que criei há um mês em mim. 6 minutos para adiar um sono que, agora, vem tão naturalmente como o choro de uma criança com fome. 6 minutos para explicar como se me embota o pensamento nesta moratória de pílulas douradas que engulo como tábua de salvação, todos os dias, durante quanto tempo...não sei. Não sei, de facto, porque se me entaramela a voz, neste soluço de talento, antes fluido e terno, como uma segunda pele que se descolava sem dor ou esforço. Agora, é sofrível falar, viajar em mim, são passos ocos que se ouvem como um pássaro que esvoaça num segundo, é uma tépida chuva, que se eclipsa fugazmente no calor. Neste tempo de máscaras, olhar para dentro, é percorrer um denso corredor escuro sem formas: não me reconheço, não me vejo. Não dói, como não doem todas as coisas mortas ou adormecidas. Não dói, mas não sinto, não vivo. 

Já não sou visitada na noite por damas de reputação questionável...já não há insónias, já não há fantasmas... Mas não pensei que deixar o campo de batalha, seria deixar tanto de mim em despojos, dispostos à lenta cadência dos dias. Não sabia que baixar a espada significaria abandonar o escudo, a armadura, não ser mais soldado, mas antes outra classe de prisioneiro...


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