sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Penélope, a aprendiz de equilibrista

Escolher acreditar é a tarefa humana mais difícil.  Acreditar e confiar no melhor por vir, 
é caminho de dúvida, de equilibrismos impossíveis, de castelos de cartas.

Hoje, escolho acreditar. Quem caminha na Fé, quaisquer que sejam os seus pés de barro, escuda-se na dúvida para crer mais alto, mais longe, mais fundo. Quem crê, começa devagarinho a criar a sua história, a tecer o seu sonho nas encostas da realidade. O crente assemelha-se à noiva Penélope que tece o enxoval para o seu marido distante e, à noite, o desfaz para iludir o tempo e o cansaço. Depois, haverá sempre o amanhã.

Acreditando, eu sou uma noiva, ansiosa na minha crença num futuro de coisas seguras e amadas. O meu amado virá quando a dúvida se tiver instalado de forma definitiva e, insidiosa e ardilosamente, quase sacudiu a fé. Não obstante estes caminhos vacilantes do noivado da crença, quando ele vier, terei um lindo lençol para ambos envolver, com fios retesados sob a dor e a tristeza, imaculadamente tecidos sob o branco do orgulho das pequenas conquistas. Ele, o meu amado, verá rosas pequeninas, que ao longe parecem nós, encruzilhadas de hesitações e de mal-entendidos, que bordei em algo belo. Teço o meu véu de doces conjecturas e de profecias caseiras. No final, sei que terei toneladas de tecido para fazer uma bela fogueira,  os delicados sonhos em que investi a minha crença, arderão em belas cores - é bom deixar para trás o que não interessa e não se consumir em raiva. Estarei pronta, então, para tecer em fé e em sonhos de novo.

Crer, para libertar a alma do jugo da desesperança. 
Crer, porque acreditar é o derradeiro exercício de escolha, a única que permite avanço. 





2 comentários:

  1. Parece-me um texto de auto reflexão, que expressa aquilo que de mais intimo se passara no teu mundo interior.... Um texto complexo e pouco perceptível, mas capaz de passar a mensagem!
    Só podemos seguir em frente se acreditarmos naquilo que somos e no caminho que seguimos.
    Beijinhos

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  2. Rita, obrigado por comentares e sobretudo por me fazeres rever e reler o meu texto, embora seja difícil sair de mim e vê-lo com outros olhos. Há, de facto, um salto pouco perceptível do primeiro ao segundo parágrafo. A metáfora da noiva continua-se. A diferença reside no facto de o meu noivo e amado poder ser um homem, o meu amor, mas no texto poder também figurar como os sonhos realizados, a esperança cumprida. Eu sou como uma noiva que espera e tece com confiança o meu enxoval...a ideia do texto é alimentar a esperança de forma contínua, como se fosse um processo ininterrupto de contar uma história, de criar um bordado. A ideia de continuidade e de confiança de que um dia virá o que desejamos...o noivo. E o que poderemos oferecer é um lençol ou um bordado dorido e um pouco diferente do que acalentámos... E é assim, a minha interpretação/intenção. p.s. tens de esmiuçar melhor isto comigo, talvez eu venha a compreender melhor o teu ponto de vista e tu me ajudes a deslindar este bordado louco :)

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