sábado, 10 de novembro de 2012

Tédio revisited

Um cansaço extremo tolda-me o gesto. Coçar o cotovelo num prurido ensurdecedor é façanha impossível. Estou tão cansada, que os olhos não se fecham com o sono, esvaziam-se de olhar, são globos frios e opacos. Tão cansada, que os ouvidos não se penetram com som, são ambos frígidos na sua cegueira. O tempo não passa, é tempo que paira. Os meus passos que não acontecem, são o tempo que se mastiga a si próprio, numa digestão inútil de sonhos e expectativas. Ouço-me a mim própria e tudo me cheira a bafío, a um amontoado de coisas já usadas e gastas, que são lixo, destroços que não se limpam, antes pesam e se olham com tristeza. Agora já nem há tristeza. Também a melancolia me cansou. Já não há nada aqui. Sou um velho que não vê passar o tempo, apenas espera na inércia, e a espera já não é morte que se anuncia, porque a morte é mudança e os ventos de mudança há muito que são brisas quentes dos pântanos.


O que há aqui são desertos grandes e frios. Tenho sede, mas estou cansada e prefiro murchar e ressequir como ameixa seca ao sol, do que procurar água. Ao invés, degluto pedras frias como a lua, cinzentas e pretas de breu da noite, e elas são túmulos no meu estômago. Aqui não há calor, não há frémito de vida. O meu corpo incha, já não é redondo de curva generosa. Não há corpo nem alma, há cansaço. Há esta esquina da vida, uma réstia de luz que se insinua, uma sombra de existência. No convés da mente, procuro freneticamente laivos de dourado, no tempo em que havia cores e luz, em que o vento ainda agitava as árvores  No tempo em que ainda se esperava a primavera, em que havia ainda amanhã, o tempo em que a dormir de noite e, acordada de dia, ainda vivia.






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