A ansiedade é como uma velha companheira que tem ímpetos de jovenzinha excitada na primeira noite de amor. Ela chega como um golpe profundo no peito, como um murro que nos tira o fôlego, como se em câmara lenta se partissem as costelas de fora para dentro, uma implosão no íntimo. As fundações tremem numa inércia insuportável deste prédio que não cai. Ah, a ansiedade, uma morte iminente que nunca chega. Morre-se num afogamento simulado, todas as vezes que esta velhinha companheira irrompe. Chega-se mesmo a sentir o frio cortante da água. É uma mão de gelo e de fogo que nos segura o coração e, eventualmente, o aperta suavemente em movimentos dolorosamente controlados. É uma agonia intensa, mais intensa porque se vive por dentro. Quem nunca se sentiu morrer quando, paradoxalmente, nunca se esteve tão vívido de medo, não sabe o que é ansiedade.
O poeta dizia que era ferida que dói e não se sente, um fogo que arde e não se vê. Todos pensam no amor, eu penso na ansiedade, numa espécie de dor mesquinha, que nem se permite sentir.
Às vezes, quando olho o mar em dias de nevoeiro, numa calmaria de águas inescrutáveis e de céu cinzento, e sopra um vento fétido de mudança e desgraça, sinto a natureza mimetizar a minha ansiedade. É assim que eu sou quando estou ansiosa. Não se vê, pressente-se. E morre-se em ansiedade por isso.
Quando finalmente a tempestade emerge, e esta velhinha insidiosa se mostra, é num gorgolejo de moribundo. A ansiedade libertada é um novelo de vergonha e de nudez que se expõe ao mundo. Não é cura; é alívio.
A resposta para este caos contido é uma nova ordem das coisas. Uma linha ininterrupta e saudável de pensamentos. A vida tem de ser uma lista ordenada e limpa de coisas, até que se recupere o controlo.
A libertação dessa ameaça que vai e vem, essa tempestade interior não se resolve apenas pelo próprio e requer ajuda externa. Pensa nisso!
ResponderEliminarO que eu penso Rita, é que a vida é contada, em todas as épocas e eras, através de circunstâncias e escolhas. As circunstâncias são imutáveis, mas para compreender o passado é importante analisar as escolhas, todas as que foram feitas e também as que foram esquecidas. Para mudar o presente, é também preciso escolher diferente do que escolhemos até então. Ajuda externa é importante, mas não prescrições cegas de alegria ou de curativos. Essas não chegam, sei-o por experiência dolorosamente adquirida. Preciso de escolher viver as minhas circunstâncias, preciso de me libertar do seu jugo, não sofrer por elas, porque como disse, elas são inevitáveis. Neste texto apenas quis expressar o que é a ansiedade...mas libertar-me deste jugo requer escolhas novas e coragem, muita coragem.
ResponderEliminarUm bjo com amizade e carinho
Ari, eu sou a primeira pessoa a achar que devemos em primeira instancia recorrer aos nossos recursos internos, em vez de partirmos para opções terapêuticas. Por isso, leva o teu tempo e faz essas novas escolhas na tua vida com coragem e perseverança.
EliminarBeijinho grande.