AVISO: Há coisas, lugares e sentires, que não devem ser postos no mundo. Às vezes são demasiado pungentes, envolvem vergonhas ou escândalos mas, na maior parte das vezes, são apenas demasiado dolorosos para serem partilhados. Não obstante tudo isto, há uma emergente necessidade de os libertar de alguma forma, a catarse é a única maneira mais ou menos sã de nos tornarmos livres, nem que seja por breves momentos. É possível que preocupe uns, que choque outros. Mas o importante é que, agora, me é permitido respirar outra vez. Demónios soltos, fantasmas exorcizados. É para isto que também servem as palavras.
O Homem do Tamborim
Lá vem ele, o homem do chapéu preto.
Ele que tem o rosto encerado,
Metade uma máscara que não se vê,
Apenas se pressente, como um anúncio de morte.
Os seus passos se sucedem em becos escuros, e
Na penumbra, se ouvem hordas de corvos
Que se levantam num frenesim de despojos.
Eu sei que ele vem aí, dentro de mim
A noite escura chama-o. Hoje, desnudei
O meu peito descarnado à luz da manhã
e o sol lambeu as minha feridas,
numa condescendência insuportável.
Eu já não sou eu, a que se desnuda
Sou uma pálida sombra do que fui
E este peito descarnado, está para
Além da cura.
Ele vem aí, o homem da corneta,
da meia beata na boca, do fumo
Que se eleva num bafo ameaçador,
Num movimento de desafio.
Ele vem aí, com a aba do chapéu
Suja e engordurada, E tudo nele
É morte e putrefacção.
Ele vem aí tocando o aviso de batalha,
E já nada em mim tem o ímpeto da luta.
A batalha começa. Eu já bato em retirada.
Ouço a corneta da morte e, quase docemente,
Espero cair nos seus braços.
Perdão, de um lugar muito escuro escrevo,
E sonho e sinto e espero.
Olá Ari! Gostei mesmo muito do aviso e do poema! Neste momento, consigo sentir exactamente aquilo que descreves no aviso prévio ao poema!
ResponderEliminarDe facto, á dias mesmo negros, dos quais nos queremos muito esquecer e fugir deles... mas por vezes voltamos a eles aqui e ali! Just Breathe...
http://www.youtube.com/watch?v=Gwh4MlE8OHs
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