sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Em Voo Quebrado

Em voo quebrado, estendo as minhas asas. Penas cinzentas e descarnadas, ausentes de luz, tímidas no seu movimento de rebeldia ao Sol. Inclino a minha face ao sabor da luminosidade, aquela aura branca e cândida, como uma madrugada terna que amanhece nos braços de um amante. Rodo sobre mim mesma, esboço um movimento de voo; vacilo porque conheço a natureza defeituosa e incompleta do meu instrumento de voo.

 Ninguém me empresta umas asas. Ninguém me ensina a voar. Ninguém me eleva no seu colo de pássaro.

É um voo quebrado, que se ameaça sobre a montanha mais alta, mais encrespada, mais ampla. E eu queria a minha escadaria para o céu, assim: maior, mais bela, mais perigosa. Mesmo no regresso, esta é uma descida que não cansa. O regresso de um herói derrotado é sempre o de um herói. 
Perder e morrer, sempre lutando.  

Em voo quebrado, mesmo habitando um anjo feito estátua, de um branco sujo pelo pó das estradas, triste pelos transeuntes distraídos, seres que passam imóveis e inconscientes. Por dentro ainda se agitam estas asas de colibri em urgência, em desejo efémero. Ainda vejo ao longe aquelas flores e, por elas, morro em antecipação, em agonia pelo que ainda está por vir, pelo que ainda se guarda em sensual segredo, em luxuriante descoberta.

A viagem incrível e dolorosa de Acreditar. O voo quebrado de um crente.





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