Nos dias de hoje, toda a tristeza é mal-vista. Estar triste é facto de tal forma pernicioso, que todos se excedem nos expedientes para exterminá-la, amarfanhá-la, abortá-la mal desponta em caras fechadas, sorrisos amarelos ou lágrimas copiosas. Ora, estar triste é, muitas vezes, tão natural como a dor na pele se acaso nos picamos na rosa, tão certo como o eriçar dos pêlos num dia de frio, e deve ser deixado livre para se derramar, até não mais haver ímpeto na sua fonte, nem caudal que o alimente.
Não se prescreve um qualquer lenitivo ou remédio ou xarope para a tristeza. O próprio remédio é mesmo vivê-la. Permitir-se respirar em tristeza é a salutar medida do se sentir vivo. Estar triste não é perder esperança. Estar triste é dar-se ao corpo e à alma, tempo e espaço, para se ir tacteando aos bocadinhos, fenda a fenda, golpe a golpe, ferida a ferida, e gentil e serenamente, encurtar abismos, suturar golpes, encerrar feridas.
Não há soluções mágicas para a tristeza. A própria solução é já raiz do problema. Tempo e paciência é o que nos cura.
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