quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Where I end and you begin

Indizíveis e invisíveis são os laços que nos unem aos outros e às coisas. Estar conectado é a única forma de ser humano. Mas às vezes penso que eu aconteço à vida, eu aconteço às coisas, porque não consigo ser e deixar uma marca. As provas da minha existência diluem-se e penso estar a desaparecer muitas vezes. Nada é para sempre. Tudo muda e, assim sendo, quanto de mim, quanto de nós permanece? Não devia ser uma estranha à vida, sei que em tudo há um sentido, mas é a continuidade que me preocupa e que me impede de estar confortável, de sentir que este é o meu lugar. Estarei exactamente e impreterivelmente onde haveria de estar?

sábado, 1 de outubro de 2011

I wish, I wish

Desejar é natural e humano. O meu desejo, na maioria das vezes é terrivelmente humano e terreno e, como tal, egoísta. Desejava poder partlhar o meu mundo, mas não esvaziando o outro do seu mundo. A dúvida subsiste: como partilhar o somos sem anular o outro. Existe um outro com espaço, com o mesmo desejo, sem que estes colidam violentamente. Porque não posso ser simplesmente desprendida, volátil, sem vontades nem desejos, aspirar a elevação apenas e elevar-me nessa aspiração. Pairar, não viver.

Uma preciosidade do génio divinamente humano.

http://youtu.be/wYWv_NSBZQI

Há um tempo para todas as coisas sob o céu

Há de facto um tempo para todas as coisas que existem e subsistem nesta Terra. Desde o tempo que se desenrola no afã da formiga, até ao tempo compassado dos batimentos cardíacos. Dentro de cada coisa, dentro de cada segundo de vida, há um tempo único, irrepetível. Não poderei recuperar nunca aqueles momentos. Instantes que levam vidas a recuperar. O mais difícil de tudo, é encontrar a sincronia nos nossos tempos. Como encontrar alguém que vive o mesmo tempo, que o tempo da sua consciência  do seu coração, do seus desejos se encontre com o meu. Como experimentar um tempo único mas partilhado, onde tudo está certo, onde finalmente se regressa a casa. Esta é a tristeza do mundo, a frustração dos desencontros. Este é o motivo pelo qual voltamos a tentar, uma e outra vez, para a frente e para trás no continuum do nosso tempo, para encontrar o momento perfeito. E assim falhamos, uma e outra vez. E assim aprendemos, dolorosa e lentamente.




sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Há vida depois da vida

O homem segue na sua oportunidade terrena como uma criança, ignorante da fonte eterna da vida e da chance que lhe foi dada para evoluir. Há sempre outras oportunidades, mas a que expensas? Quantos anos leva a reconstruir um instante?

Quanto pesa esta vida? Na equação da vida, manifestam-se implacáveis leis da natureza, com os elementos inesgotáveis do amor e da fé. Oxalá sejamos dignos deste conhecimento. Já não seremos crianças, então, seremos homens e mulheres lutando, perseverando, desejando, esperando ter merecimento.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Escrever bem quando se está feliz

Eis um título que se materializa na impossibilidade. Só escrevo bem quando estou triste. A tristeza imprime profundidade às palavras, além de lhes ampliar a universalidade. A maioria das pessoas, durante grande parte do tempo está triste...escrever é um exorcismo da tristeza, liberto de culpas ou condescendências...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A inércia do tempo e o seu avanço inexorável

O que é o Tempo senão o grande dissimulador? Se o Amor é o grande arquitecto humano, o tempo é, por sua vez, a massa aglutinadora que tudo faz mover, retroceder, parar perigosa ou fecundamente a vida. O tempo pode soprar grávido de esperanças e de repente tornar-se curto para a sua concretização; pode avançar estéril, clivando inúmeros sacrifícios, pequenas escaramuças que nada criam e tudo tornam vazio. O tempo: o mistério e a dimensão inexorável para o homem. E, no entanto, há tempos diferentemente infinitos, com ritmos e cadências únicos. Cada um tem um tempo, e cada um tem uma ordem no seu tempo. A verdadeira sabedoria é criar o nosso tempo, instalarmo-nos cuidadosamente na nossa posição e tecer o nosso destino. Saber que não estamos nem um infinitésimo segundo atrasados nem um infinitésimo segundo adiantados no Teatro da Vida.
Na verdade, o Tempo é a única realidade inteiramente livre: repetidamente constrito, medido, fraccionado, nunca é patenteado, a ninguém pertence. Junto com o sopro da vida, está na génese do próprio Universo...


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Rodeando o vazio

Um lago parado é infecundo por inerência. Estagnado, é por definição um vazio de actividade, um poço de inércia. É como um buraco negro; mas, tal como ele, insuspeito da sua verdadeira dimensão. Tudo aglutina, assimila e digere. É um vazio devorador, misterioso, denso. De repente, não é possível sentir, apenas dilatar para dentro, mantendo aos olhos externos uma superfície impassível... é esta a derradeira fronteira da solidão.

domingo, 8 de maio de 2011

Sísifo por Miguel Torga

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças
.

A luta pela inocência

Crescer sem amargar é uma batalha pela inocência. Rodear a madrepérola do potencial para sonhar de toneladas de detritos provenientes da constante desilusão que é crescer e amadurar. Tentar que esta concha seja virtualmente impenetrável, mas com uma permanente e devidamente escondida, forma de respirar. Exercício dantesco. Há uma imagem deliciosa de Sísifo empurrando a pedra monte acima. Será inglório, será obsoleto e inútil? Talvez... Mas eu prefiro imaginar-me Sisifo empurrando o meu coração que nem cristal pela montanha. Obsoleto, sim. Mas gloriosa sobrevivência da esperança, do sonho, da capacidade de crer, não obstante provas irrefutáveis da maldade do mundo. Não obstante este ruído de fundo que é a angústia do mundo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A fórmula divinamente humana

Descrevo o caminho de perfeição: levantar-me com o firme propósito de amar tudo e todos, sufocar ressentimentos e pequenezes com este amor. Orientar a acção num trabalho diligente, em todos os planos. Encaminhar os naturais anseios, desejos e sonhos com a esperança: esperar e perseverar. Por fim, responder às incompreensões, invejas e humilhações com o perdão, de mim para os outros e de mim para mim.

Verdadeiro, mas envolto de camadas e camadas de humanismo imperfeito. Imperfeitos somos, mas perfeitos na génese. Tendemos para o início, num movimento circular, em que se progride numa linha de retrocesso. Esta é a minha verdade, que prefiro à felicidade. Como dizia Caeiro, "e é difícil explicar a alguém o quanto isso me alegra, e o quanto isso me basta".

sábado, 16 de abril de 2011

Manifesto do Amor

Recuso-me, recuso-me a acreditar que o Amor dos livros não existe. Não o amor à primeira vista, porque é de facto uma doença raríssima que quase passou a lenda. Quero antes acreditar que existe um Amor forte, que faz doer sempre e muito. Um Amor que tem tanto de sofrimento como de felicidade, cujo único fio condutor é a intensidade. Porquê, porquê me contentar com o hábito, o companheirismo, a relação "dá jeito e não faz mossa"? Talvez daqui a uns anos esse seja o horizonte possível, com a sede de intempérie saciada para sempre. Mas nesta moratória, exercito a esperança e iludo a descrença...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Descascando a Cebola

Quando é importunada com perguntas, a recordação assemelha-se a uma cebola, que quer ser descascada, para que possa vir à luz aquilo que é legível, letra a letra: raramente de forma unívoca, muitas vezes como escrita em espelho. A cebola tem muitas camadas. Mal é descascada, renova-se. Cortada, provoca lágrimas. Só ao descascá-la fala verdade. O que aconteceu antes e depois do fim da minha infância, bate à porta com factos e decorreu pior do que o desejado, quer ser contado às vezes assim, outras de maneira diferente e desencaminha para histórias de mentira.

Gunter Grass utilizou a melhor alegoria do mundo para descrever o labirinto interior do ser pensante. Apesar desta estrutura labiríntica e inescrutável, é possível àquele que vive só há demasiado tempo e que aprendeu a usar essa solidão como conhecimento privilegiado, ter uma rocha dura em si mesmo, intangível como o núcleo da Terra. A este ser intensamente consciente, ocorre-lhe por vezes a forte sensação de que é ele que olha o mundo, de dentro de si mas, de repente, este ser sabe que conseguiu o impossível e que saiu de si e olha o mundo, com a intensa consciência de que só ele está aqui e agora, só ele olha o Universo com o olho do próprio universo. Penso que é a consciência alargada de si. Isto é tão brutalmente assombroso, que se exerce o movimento contrário, como uma sacudidela de ombros, e se procura esquecer que se assistiu (ainda que por breves instantes), de camarote, ao desenrolar da Vida.



domingo, 10 de abril de 2011

A mais dura escola humana

Estar doente é perder o controlo. É perder a maestria sobre algo que sentimos nosso e só nosso, no domínio da propriedade e do proprietário. Sempre me pareceu pouco compreensível que alguns gostem de estar doentes, tirando daí benefícios e até prazer...
A doença anula a vontade, porque impõe um ritmo muito proprio e muito seu que, integrando variáveis tão complexas, tem um comportamento difícil de prever e de manipular. A doença é uma prisão para a mente, deixa o ser manietado, amordaçado e dependente. Nada é tão avassalador para o Homem.
A doença é a mais dura escola humana, onde a aprendizagem é sofrida e sofrível, sempre por defeito, tendo em conta o que se perde e o tesouro que se pode recuperar...
É lamentável que para a maioria de nós, após o episódio de enfermidade, se imponha o lento esquecimento, o retorno à rotina que desvaloriza o que poderíamos ter aprendido.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

The Audacity of Hope

Ousar ter esperança, preencher os pulmões de um sentimento limpo e luminoso, desalojando a angústia. Este é o derradeiro exercício, pandoriano, pois a esperança convive com todo o mal, não o suporta mas torna-o mais suportável.

Um som de esperança:

sábado, 2 de abril de 2011

Consciência, Inteligência e Intencionalidade

Eis a fórmula de Deus. Inteligência para criar, intencionalidade provada pela presença de uma direcção e de um sentido no caminho evolutivo, consciência afecta ao seu produto final e inacabado, perfeito e complexo, o Homem. Como contemplar a Vida, conhecer a ciência e não ver Deus? Tentar vislumbrar um deus antropomórfico no Universo é quase uma blasfémia...Deus é luz perfeita, luz primordial. Tão perfeita e pura, que não conseguimos interiorizá-la na plenitude nem compreendê-la. Não conhecemos Deus, afloramos a sua perfeição e se nos deixarmos tocar, viveremos sempre na aspiração dessa luz, na frustração da sua distância e quase inacessibilidade. Aspirar e perseverar é tudo o que podemos alcançar. Pelo menos a maioria, que não é Buda...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Hoje deitei-me ao lado

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do meu próprio coração.~

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
o mistério das palavras maduras
ou a brancura de um amor que nos prendia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até ouvir
o meu sangue jorrar na voz das fontes

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 30 de março de 2011

Acerca da Fé...

O meu Deus é um princípio gerador de vida, uma energia, uma força, que se sente mas nao se mede. Que inspira os homens e as mulheres, mas que cada um se deixa inspirar de maneira e intensidades diferentes. Eu aposto na centelha divina que existe em todos os seres, e tento explorar e conhecer e viver o meu quinhão de divindade...

O único mandamento que compreendo é que a criação do universo só pode ter sido um acto de amor inesgotável, imensurável e absoluto. A partir daí, esse amor e força e espírito, sopro de vida, repercutiu-se em todos os seres, em todas as etapas da evolução, até ao produto final mais perfeito e organizado que é o ser humano, dotado de algo maravilhoso que é a consciência. E por isso é mandatório que conscientes de que fomos criados no amor, temos de nos mover no amor. E porque somos conscientes, existe um Eu e um Tu, sabemos a extensão do dano e do benefício de exercer este mandamento. A acrescentar a este maravilhoso mandamento...o segundo, que é a vida é eterna, mas eternamente mutável...

O acto de criação, o amor primordial tem milhares de oportunidades de se reinventar, de se perdoar, de aparecer nas mais improváveis ocasiões.

sábado, 26 de março de 2011

Um exercício de lucidez e de inquietude

Sempre me pareceu terrível pensar que posso desaparecer a todo o momento, que só me cabe esta vez e que nunca vou voltar. De modo que, de certa forma, reconciliei-me com esta ideia, situando-me a mim e à minha breve existência dentro de um contexto maior. Treinei-me a aceitar que não passo de uma ínfima peça da grande aventura da vida, uma parte fugaz de algo que ainda é maior e mais poderoso que eu. Desta forma tentei ampliar a minha identidade, o meu próprio ser, sempre á custa do eu pequeno, esse eu que de um momento para o outro pode ter o mesmo fim que o pequeno corço, o ungulado morto que me pesa algures no meu subinconsciente e nunca se levanta ou se mexe. Continua a ocorrer-me todas as manhãs que só sou eu, e que só estou aqui agora, que só somos tu e eu que temos a consciência que o mundo tem de si mesmo.

Jostein Gaarder in Maya

Não nos cabe só uma vez, a expiação é longa demais para só uma vida. Mas é um belo exercício de viagem para fora de si mesmo, uma sensação difícil de explicar, que só me aconteceu uma vez na minha vida e foi tão inquietante, que me deixou desconfortável na minha própria pele durante muito tempo. A sensação de sairmos de nós, nos olharmos e dizer 'tenho consciencia de mim no Cosmos', sou uma pessoa num mundo amplo até à infinitude...

segunda-feira, 21 de março de 2011

As fronteiras da internalidade

O ser inteligente é potencialmente um ser em angústia permanente. A inteligência acarreta uma noção intensa de realidade, do facto do único sentimento tangível ser a dor. Uma dor que culmina num parto de lampejos de felicidade, de perdão, de raiva, de tudo. A dor é a mãe de tudo.

Louco é aquele que vive acordado neste mundo. E ser inteligente é um estado de insónia. O que salva o inteligente da alienação? A Fé.  A esperança. O amor, sempre limitado a um acontecimento raro.

Para já, resta-me a Fé. E a esperança, por vezes, só mesmo a esperança.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Humanidade

A realização última do potencial humano está na aceitação, não passiva, mas em ponto de força. Quando me liberto do ideal burguês, adolescente e ilusório da felicidade, aceito que a vida é dor. Mudar o outro é sofrimento. Aceitar-me é um caminho longo e espinhoso, que requer uma força ciclópica, mas que culmina na tão fadada felicidade. É uma força que expande a consciência. É uma fé inabalável em si próprio.
O Amor é talvez contranatura, porque aceita-se o outro antes de se aceitar a si mesmo. Também é força passiva e concentrada, resistente até ao infinito, mas não permite o autoconhecimento. Confunde a identidade, é o conflito mortal entre o impulso egoísta de posse e poder, e o exercício último de auto-sacrifício que contraria a auto-preservação.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Indifference

http://www.youtube.com/watch?v=BgQ4hT04eTo

O Tédio

Já Fernando Pessoa falava deste tédio de si. Tédio de mim é que me convulsiona de momento. Tédio de viver, de respirar, tédio que por vezes é angústia que me sufoca. Numa vida de automatismos, pensar é a verdadeira maravilha, o íntimo prazer, a alegria estéril e pontual. Que solidão, Deus meu!
A insanidade revestida de hipocrisia social é o meu lema (auto?) imposto.

Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.

Arthur Schopenhauer

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Acerca das diferenças

Confesso que me causa alguma aversão o pudor ao estereótipo. Estereotipar é um passo antropológico importante, na longa caminhada evolutiva do homem (e, se quisermos ser sinceros, sobretudo da mulher). Generalizar e agrupar é fundamental à vida em sociedade, o padrão é a norma que determina a sanidade mental e a coesão grupal. Identificar características, agrupar, ordenar, seleccionar, excluir, é mecanismo natural, próprio e vital. Porque investir tanta energia no não esteriótipo, na não generalização, quando o facto é tão natural como o respirar. Meus amigos, a verdade crua é que NÃO SOMOS TODOS IGUAIS. Atrevo-me a dizer que uns são verdadeiramente piores ou melhores do que os outros. É pela diferença, não apenas pela sua existência, mas sobretudo pelo significado que a ela atribuímos, que concretizamos o sentimento de pertença, do que é próprio e não próprio, uma necessidade humana básica. Podemos gastar todo o tempo útil da nossa vida a especular o motivo do meu quinhão de (in) felicidade é diferente do outro, mas desejável é fazermos o melhor com o que temos e, paradoxalmente a todo este meu discurso, tender a acção para a utopia de nos tornarmos todos iguais, estender a mão ao outro, oscilar entre o impulso solidário e a íntima certeza que o outro não é como nós, nunca será bem parte de nós, porque o outro é o OUTRO.  A menos que se trate da alma gémea, se for esse o caso esqueçam tudo o que disse!
Viva o estériótipo, mas não digam nada a ninguém!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Absolutamente etéreo...

Nascituro

Anos de adultez precoce conduziram-me a uma certeza última: a vida é uma luta, na qual as perdas são incomensuravelmente superior às vitórias, e mesmo as Vitórias são-no com um travo bittersweet, nunca é o que esperas, nunca como sonhaste, tudo fica aquém. A vida não tem objectivo último de felicidade, porque esse é um não objectivo. Esse é um horizonte, um horizonte a que nunca se chega. Uma quimera, uma verdadeira quimera, um santo Graal. Emerges do útero para a aprender. Ora e quais são as condições ideais para aprender? Um dado novo, adquirido às expensas de grande labor emocional, de grandes perdas, de encaixes em sistemas interiores há muitos estabelecidos, uma intempérie de sentidos e de desenraizamentos.
A felicidade é uma quimera que tende a mimetizar estados intermédios, em que o pobre ser que se ergue em duas patas submerge-se na ilusão de que estados imutáveis são garantes de felicidade. Que felicidade? Aquela que emana das coisas? Emana do Ter, do Possuir, do Manipular. Estado intermédio que proporciona sensação very cosy, comprada a troco de uma imbecilidade permanente, a uma cristalização do imo humano e do ímpeto primordial de arriscar, de sofrer, de gritar de...VIVER. Já dizia Vargas Llosa, esses não vivem, são mortos-vivos...não dançam quando dançam, não amam quando amam...
A vida é dor. A dor aprimora aquele que se submete e que, paradoxalmente, luta. A verdadeira felicidade é uma dor que dilacera, que grita ela mesma, uma dor pelos desastres acumulados, pelas perdas, pelos destroços de Ser que se dispersam no tempo, uma dor redimida pelo assombro perante uma reviravolta da vida, por um momento em que, esmagados  pela Vida, vislumbramos a esperança, o orgulho pois tudo está no sítio certo, na hora certa. Tudo está perfeito.

Façam o luto da Felicidade. A aventura da vida é uma permanente angústia...e momentos de absoluta Glória.