domingo, 19 de fevereiro de 2012

Trivialidades Cíclicas

Caminhando ao longo do carril, antecipando o trajecto do comboio. Brincando com a grande sombra, sem medo face às grandes ravinas, mas soçobrando nos pequenos desníveis. Um pássaro pousa nas linhas de alta tensão. A vida observa, partilha o eco de consciência e adensa a voz interior mas, de facto, não vê. Nada perscuta além da superfície. Também este não quer ver, quer tornar o avanço do comboio seu. Assim como quer que sejam suas as patas que tocam o fio de alta tensão. Aglutinar a sucessão imparcial e inexorável da vida. Assumir a sua indiferença. O Universo não tem olhos. O homem é o olho do universo e olha-se a si mesmo. E esse olhar dói, corrói, corrompe.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Far away

Há música que proporciona um prazer directo, fruto da sua arquitectura sonora, da sua perfeição matemática. Mas há músicas evocativas, cujo prazer não advém da música, mas dos lugares aonde nos transporta. José Gonzalez tem nome espanhol mas vêm das serenas e frias escandinávias. E isso nota-se, claramente.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Um poema dado a parasitas oníricos

por vezes, excurso pela
minha fé, deus obedece-me
com dedicação, quando
alimento os parasitas
dos meus sonhos para
sabotar a realidade

acorro aos pássaros
desligados ao vento

... não caio, entre os
pássaros bichos irregulares

valter hugo mãe
Por vezes ocorre-me que sonhar e aspirar é talvez actividade redundante e própria de parasita. Tolda a mentalidade racional e produtiva do homem. Alguns dizem que o caminho do conhecimento faz-se desbravando a criatividade mas, possivelmente, a criatividade é tão só um processo mental de separação, padronização, arredondamentos por excesso e por defeito...Ocorre-me agora que sonhar é processo intrínseco próprio do covarde que se recusa a ingerir e digerir a realidade, defecando desilusões como é natural...