quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Uma janela para o mundo

Simplesmente: consigo ver as hastes dos juncos sobre a linha da água.
O rio, ao longe, como um espelho de prata, onde a claridade se espalha em infinitos feixes vestidos de luz.
Consigo ver os caules delicados, dobrando-se na ponta em estames femininos, grávidos de suavidade, uma curva que se deleita no horizonte.
Consigo vê-los, através da luz e do rio, porque me ergo do meu catre, como um escravo no vislumbre da liberdade. Ergo-me acima do que me é possível ou moralmente indicado. Ergo-me ligeiramente, inclinando o meu tronco no sabor de uma brisa que me impulsiona timidamente. Ergo-me, porque assim é a minha natureza: como um junco orgulhoso na beira do rio.

E assim contemplo a beleza nua, que se oferece sem vaidades, a quem se levanta para vê-la, a quem não tem medo de largar o catre seguro onde vive e espreitar a janela, uma janela para o mundo. 

Simplesmente, consigo ver.