domingo, 16 de setembro de 2012

A tristeza de tudo o que não foi mas permanece

Tudo o que poderia ser e subsiste em semente, é triste. Triste como são todas as coisas que ficam por nascer. É uma tristeza como que uma pequena morte. Às vezes morre porque não choveu, e assim pereceu suavemente, sem culpas, com inocência. Às vezes morre violentamente, e foi ceifada na lâmina dura e fria do desgosto. E assim à tristeza se soma a raiva, guardada como pérola, cristalizada no tempo, sem nunca desaparecer, antes se torna inútil. Pior mesmo, é a tristeza do que não foi mas um dia acreditámos que poderia ter sido. É uma tristeza como uma derrota. Há algo de inglório e vergonhoso neste investimento estéril de esperança. Tudo o que é e não foi subsiste sempre. Na sua não-existência, há uma segura e inexorável persistência na nossa vida. Creio que somos bem mais do que as nossas sementes infecundas. Somos afinal tudo o que cresceu e frutificou. Mas bem, quando hoje contemplo esta minha terra, vejo sementes lançadas ao abandono e, a maior tristeza, não está na semente, está sim na minha visão de tudo o que poderia ter sido. E é isso que às vezes dói como ferida que não sara.

Eu sou eu, meus fantasmas, minhas sementes que não nasceram. E quando voltar a viver, quero ser tudo o que cresceu e que ainda há-de morrer, mas já em flor, em fruto, em árvore murcha quando chegar a sua hora.


3 comentários:

  1. Adorei este post, Ari! Não me fez em nada pensar em esperança, como deste a entender, mas sim em em aceitação daquilo que somos e fomos;
    Da aceitação de que existem sementes que nunca vão fecundar, mas que apesar disso temos de continuar a viver...
    E sim é verdade, tudo o que foi e não é subsiste para sempre... como ferida que dói e não sara!
    Se estiver errada corrija-me Dona Arina!!!
    Beijinhos

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  2. Rita, obrigado por comentares. Este post foi um belo exercício de reflexão sobre tudo que temos de aceitar na nossa vida, mesmo que não chegue a bom porto. Há caminhos sem saída que mesmo assim temos de caminhar. Também assim aprendemos. Foste certeira na apreensão do seu sentido...

    Ah, Este post não tem a ver com a esperança, aliás, eu escrevi no facebook que hoje não conseguiria escrever com esperança... antes com uma certa perseverança, isso sim, apesar de tudo.
    Um bjo enorme, make artist extraordinaire

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  3. O Presente como reflexo do passado. Depositamos esforços em expetativas criadas ao longo do tempo. Alguns desses esforços resultaram no máximo num ser latente que nos habita mas que não se revela. Hoje eu, tu, muitos ou quase todos de nós não alacançamos tudo o que desejamos. Parte das sementes floriram. Outras ainda não mas com perseverança acabaram por vingar. Restam aquelas que independentemente dos esforços jamais vingarão. Díficil mesmo é distinguir as sementes. O mais importante é continuar o nosso caminho tentando aceitar que nem tudo será uma flor ou um fruto maduro pronto a colher.

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