domingo, 16 de junho de 2013

Banco de sangue

Exangue, pálido,
Escorregadio como peixe morto na banca do mercado.
Ainda sem podridão nas narinas,
Entre o não vivo e o moribundo,
Que ainda assim consegue ser fresco para a boca de alguém.

Queda-se no seu marasmo,
Sua parcimónia perante o inevitável
banquete de carne e de água
e do seu sonho de vida.

Tarde de mais para agitar
Guelras aflitas em busca de
Ar, como pequenas bolhas
de liberdade, de criação.

Lamento, como canto de sereia em
Abandono, dançando num salto
Impossível sobre as águas,
Escuras e laivos de azul, reflexos de
Sol sobre a cabeça, ah...

A liberdade, de ser, de se escolher
Morrer com a luz a dançar no
Corpo de escamas indivisíveis como
Espinhos de uma mesma flor que
É bela.

Ah sangue que coagula,
Gorgolejo de adeus, da
Vida que se esvai em
Minutos eternos.

Bate, bate coração de
pequenos vasos, emaranhados
entrelaçados, num abraço
Inviolável, como os amores das
Despedidas, intensos e efémeros.

Enche-te de sangue,
Coração exangue e pálido
Ali, há um banco de sangue de
Irmãos nas mesmas guerras e
Batalhas infames pela
Vida e pelo
Amor e pela
Fé.

Transfunde-te de força
Renovada e vive uma
E outra vez, mesmo
Acabando naquela
Banca de venda da
Vida e de outras ilusões.