segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Há dias que são filosofias

É tarde no dia, mas cedo para nos descobrirmos aos dois, de mansinho, como se desvendam as coisas secretas, de amor e de sombra. É tarde e o sol se desmaia sobre o mar, lambe-nos a pele quente e sequiosa, como uma segunda pele de luz. É cedo para nos despedirmos, os corpos permanecem numa avidez que se desenrola devagar, como um prazer que se parte e reparte e se prolonga deliciosamente no tempo. Entardece, e como um suspiro sai a tristeza como a última cor abandona os ossos. É uma evocação feliz, é um regresso a casa, ao útero materno. E cedo se instala a noite e o derradeiro pôr de sol se eclipsa perante o nosso olhar que o persegue. É tarde para gravarmos estas últimas cores na memória, há tempo apenas para mete-lo dentro de nós como se aprende as coisas naturais, de respirar e de dormir.
É tardia esta saudade, é cedo ainda e a languidez dos segundos cola-se à alma como uma memória íntima, quase primitiva. Nem é tarde, nem é cedo. Estes são os minutos sem tempo, a eternidade em segundos que se desfazem como que tombando, em tatuagens de tinta indecifrável. Dentro de nós, um tempo imenso nos abriga do entardecer das coisas, este sentir não tem idade.


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