segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Amar o Homem que não existe

Assobia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.


Eduardo Galeano

Che dizia que era preciso nascer um Homem novo. Nascemos e morremos várias vezes na mesma vida que se ergue sobre esta Terra. Mas raramente emerge uma versão nova, é sempre uma versão retratada, rememorizada, reminiscente de um reflexo antigo. Ser novo significa ser presente de uma forma inaugural. Recriar um ser despojado dele mesmo, cuja existência fosse ampliada na comunidade, recriada e replicada. Assim emerge a solidariedade absoluta, o bem coletivo. Alguns diriam a morte da criatividade, da singularidade, pois que seja...o despojamento de si não será a forma mais sublime de ser humano?

O derradeiro narcisismo ou a racionalização da solidão

Encontrar um Eu num Outro seria o meu objecto de paixão por excelência. Não há surpresas em mim, se mantiver o olhar na superfície. Querer mais é próprio dos loucos, comedida sou se quero apaixonar-me por mim num outro. Onde há um reflexo vivo de mim própria para poder amar com segurança, ou melhor, para poder amar simplesmente? A irredutível individualidade de quem se habita só, há demasiado tempo, tornou impossível o despojamento de si que é condição do amor...

A negação de encontrar um par é o derradeiro narcisismo ou uma racionalização da solidão. Ainda não descortinei. Alimento-me de fogos fátuos, de miragens de glória, de ilusões de altruísmo. Tudo são distrações ao verdadeiro sentir. E assim continuo sem conseguir escrever com simplicidade, sentir com simplicidade, ser com simplicidade, esperar com simplicidade. Há uma ansiedade em tudo...