sexta-feira, 25 de maio de 2012

Make up é arma de sobrevivência

Percorro, pés e olhos, este baile de máscaras
e só eu exibo uma máscara de mim.
Escarlate e laranja escondem o breu que
subsiste. Uma luz pura e ténue é
eclipsada. Existe, porque alguém crê
que ela se insinua, quando, por instante,
me distraio na margem da verdade.

Não é só fogo-fátuo;
É escudo e é couraça.
Aflora-se a superficie e o gesto
tem a aparência da vontade.
Bela e perfeita é a máscara
Redonda, lisa, acetinada
Porque assim é o que é efémero:
sólido e falso.
E o que fica, o que fica são
pupilas pretas, íris transparentes, pestanas raras.
E tudo tem a maravilha do que é
pequeno e frágil e verdadeiro.




sábado, 19 de maio de 2012

Um colibri de desejo

Se pudesse, sim se eu pudesse, se a tristeza, a dor, a sorte ou o tédio não me tivessem acontecido... Ah, se eu pudesse, desejaria descobrir que, afinal, nem tudo muda, que há constantes absolutas da vida, que tudo deixam mais seguro. Desejar-te-ía um crepúsculo partilhado, no meio do mar, num barco pequenino e branco. Desejar-te-ía uma tela cheia de cores, na qual vislumbrasses um mundo raro, precioso e belo. Belo como são belas as coisas íntimas, coisas que com os nossos sentidos fazem amor. Desejar-te-ia uma despedida intensa, num dia de chuva, um avistar daquele que amas na janela do comboio. Um adeus que sabes ser até sempre, porque há coisas que não morrem, nunca morrem nem podem morrer. Desejar-te-ía um presente enorme, um embrulho barulhento para poderes rasgar, desatar e amarrotar...dois balões que se separam solitários, que o vento leva e vês partir. Desejar-te-ía o prazer de uma carta com uma letra grande e curvilínea, de um livro velhinho, do cheiro a morangos, da descoberta do padrão singular das tuas impressões digitais...desejar-te-ía uma baú cheio de coisas inúteis, subtilezas e lembranças.
Ah, se eu pudesse, se eu pudesse, continuaria a desejar e a desejar-te...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Acordada no Alaska

Um dia de Sol radioso, uma calor que apetece e que lambe a pele com sofreguidão. Sento-me a beber um café, a olhar o mar. As ondas não se deleitam na areia, tombam antes com força e rapidez. Não cheira muito a maresia, cheira antes a coisas rapidamente aquecidas, sem que a fragância se tenham instalado em coisa alguma. Também eu não tenho cheiro, nem marca nem consistência. Hoje tenho consciência. Consciência de mim, do tempo, do meu corpo e das suas miudezas. Consciência do que não está e do que foi.

Hoje estou acordada no Alaska. A natureza é grandiosa e eu sou pequenina.