terça-feira, 13 de novembro de 2012

Poema de sumos e outras frutas

Queria que adormecêssemos com o cabelo
num desalinho, corpos desarticulados
limites esbatidos no contraluz,
ângulos impossíveis e suados,
pele suspirando pêssegos
gotejando sumo, carnudos
de pele acetinada, areia entre
os dedos, restos de sal sequioso nas
pregas perfumadas de estio e de calor.

Queria que desfalecêssemos com o cansaço
dos amantes entrelaçados na pureza
do branco das casas, no alentejo de
campos de urze em que galopei
teu flanco, pêras doces e douradas que
lambíamos dos sexos palpitantes
do teu colo, da tua margem íngreme
caíam palavras aos supetões,
sussurradas, segredadas quando
ainda não amanhecia, dia em que
adormecíamos, de amor e de luxúria.

Roupa de sal que despíamos,
com carinho, recolhíamos a roupa
do chão, despojos de batalhas em
pomares, por fruta madura que não
abandonávamos na árvore, na idade
em que tudo se consumia, tudo se bebia,
sôfregos corpos leitosos, túrgidos de
ais e uis e de cascas que se fendiam ao
menor toque, ao primeiro trote de
cavalo orgulhoso, e forte, à chuva e
ao sol, na cama, no alpendre, no chão
na arca do teu trigo, no baú das tuas
coisas recordadas, sob corpos de uvas
a cheirar a mosto, beijado por gotas
de orvalho, pisados por pés largos,
dedos que saboreio na mais absoluta
lascívia, é por ela que hoje anseio
e choro e vivo. A lascívia, essa
grande dama.




2 comentários:

  1. Minha querida Ariana, és um poço de surpresas, uma caixa de chocolates em que cada sabor se torna melhor que o outro... gosta mesmo muito das tuas palavras... sentimentos profundos!
    Abraço,
    Sílvia

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  2. Olá Libelinha Sorridente :) obrigada pelas tuas palavras. Escrever é uma grande parte de mim e poder ser fiel ao que sou de uma forma tão pública, como é o blog, é uma alegria e um prazer! Um beijinho de força e coragem

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