quarta-feira, 30 de março de 2011

Acerca da Fé...

O meu Deus é um princípio gerador de vida, uma energia, uma força, que se sente mas nao se mede. Que inspira os homens e as mulheres, mas que cada um se deixa inspirar de maneira e intensidades diferentes. Eu aposto na centelha divina que existe em todos os seres, e tento explorar e conhecer e viver o meu quinhão de divindade...

O único mandamento que compreendo é que a criação do universo só pode ter sido um acto de amor inesgotável, imensurável e absoluto. A partir daí, esse amor e força e espírito, sopro de vida, repercutiu-se em todos os seres, em todas as etapas da evolução, até ao produto final mais perfeito e organizado que é o ser humano, dotado de algo maravilhoso que é a consciência. E por isso é mandatório que conscientes de que fomos criados no amor, temos de nos mover no amor. E porque somos conscientes, existe um Eu e um Tu, sabemos a extensão do dano e do benefício de exercer este mandamento. A acrescentar a este maravilhoso mandamento...o segundo, que é a vida é eterna, mas eternamente mutável...

O acto de criação, o amor primordial tem milhares de oportunidades de se reinventar, de se perdoar, de aparecer nas mais improváveis ocasiões.

sábado, 26 de março de 2011

Um exercício de lucidez e de inquietude

Sempre me pareceu terrível pensar que posso desaparecer a todo o momento, que só me cabe esta vez e que nunca vou voltar. De modo que, de certa forma, reconciliei-me com esta ideia, situando-me a mim e à minha breve existência dentro de um contexto maior. Treinei-me a aceitar que não passo de uma ínfima peça da grande aventura da vida, uma parte fugaz de algo que ainda é maior e mais poderoso que eu. Desta forma tentei ampliar a minha identidade, o meu próprio ser, sempre á custa do eu pequeno, esse eu que de um momento para o outro pode ter o mesmo fim que o pequeno corço, o ungulado morto que me pesa algures no meu subinconsciente e nunca se levanta ou se mexe. Continua a ocorrer-me todas as manhãs que só sou eu, e que só estou aqui agora, que só somos tu e eu que temos a consciência que o mundo tem de si mesmo.

Jostein Gaarder in Maya

Não nos cabe só uma vez, a expiação é longa demais para só uma vida. Mas é um belo exercício de viagem para fora de si mesmo, uma sensação difícil de explicar, que só me aconteceu uma vez na minha vida e foi tão inquietante, que me deixou desconfortável na minha própria pele durante muito tempo. A sensação de sairmos de nós, nos olharmos e dizer 'tenho consciencia de mim no Cosmos', sou uma pessoa num mundo amplo até à infinitude...

segunda-feira, 21 de março de 2011

As fronteiras da internalidade

O ser inteligente é potencialmente um ser em angústia permanente. A inteligência acarreta uma noção intensa de realidade, do facto do único sentimento tangível ser a dor. Uma dor que culmina num parto de lampejos de felicidade, de perdão, de raiva, de tudo. A dor é a mãe de tudo.

Louco é aquele que vive acordado neste mundo. E ser inteligente é um estado de insónia. O que salva o inteligente da alienação? A Fé.  A esperança. O amor, sempre limitado a um acontecimento raro.

Para já, resta-me a Fé. E a esperança, por vezes, só mesmo a esperança.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Humanidade

A realização última do potencial humano está na aceitação, não passiva, mas em ponto de força. Quando me liberto do ideal burguês, adolescente e ilusório da felicidade, aceito que a vida é dor. Mudar o outro é sofrimento. Aceitar-me é um caminho longo e espinhoso, que requer uma força ciclópica, mas que culmina na tão fadada felicidade. É uma força que expande a consciência. É uma fé inabalável em si próprio.
O Amor é talvez contranatura, porque aceita-se o outro antes de se aceitar a si mesmo. Também é força passiva e concentrada, resistente até ao infinito, mas não permite o autoconhecimento. Confunde a identidade, é o conflito mortal entre o impulso egoísta de posse e poder, e o exercício último de auto-sacrifício que contraria a auto-preservação.