segunda-feira, 24 de março de 2014

Not all who wander are lost

Porque errar no ermo do mundo
No ermo de nós mesmos
No cimo de uma montanha
Cheio de si, com um pouco de nós
É imensamente humano.

Sou errante e, se me perguntam,
Não estou perdido.
Antes pareço só, vagabundo de mim
Permeio as minhas fronteiras,
tateando a minha sombra.

Porque a incerteza é rainha
De todos os possíveis e
Vencedora de todos os impossíveis.
É errando que sei que escapo
Por vezes, por muito ou
Por pouco tempo
Ao mundo e à certeza das
Coisas iguais, assassinas da Alma.

Estou errante, num barco azul
A vela é de neblina espessa,
Transeunte de mar imenso.

Capitão deste barco de sonhos,
Encontro-me mais além,
Depois do horizonte.

Onde é isso
Não sei, a errância é navegar sem nada saber.





quinta-feira, 6 de março de 2014

Caminhar nos teus sapatos

Meti-me nos teus sapatos, num esforço sobre-humano para afastar o meu individualismo. Despi-me de mim, dos meus sapatos gastos e com remendos, mas fortes sobre a terra que calcam, enraizados como a mais velha das árvores, na sua vontade férrea em sobreviver. Expus os meus pés dentro dos teus sapatos, com dificuldade, porque não conhecem as suas reentrâncias, os sítios especiais cheios de calos da vida e de outros precalços. Meti-me adentro de ti sem medo, porque preciso de sentir como tu sentes, pisar como tu pisas as coisas, como galgas os obstáculos e te desvias das poças de chuva. Preciso de caminhar sobre aquele rasto que percorres todos os dias, com o peso das tormentas que se abatem sobre ti. Preciso de conhecer como lutas contra o vento desviante, como manténs a direção inexorável para o horizonte que persegues.

Preciso de calçar os teus sapatos, para te compreender e te perdoar. Porque estou cheia de mim e das minhas coisas e não alcanço mais nada. Já não caminho com os meus; hesito num plano incerto, náufrago na sua indecisão. Os teus sapatos têm um norte, e quero tatuá-lo na planta dos meus pés, para já mais me perder de ti.

Hoje, caminhamos juntos, eu em ti, tu em mim. E iremos aprender juntos. 

sábado, 1 de março de 2014

Sacudir o pó dos dias

A poeira dos dias desce devagarinho, como uma segunda pele que se cola a nós, húmida e pegajosa, com um suor indesejável que tarda a respirar.
Sacode-se os ombros, para fazer ressurgir o entusiasmo, há muito soterrado sob camadas de horas e minutos de infinitésimos segundos, pequenas viagens para os lugares de sempre... O Aqui e o Agora confundem-se sob o mesmo espetro de tempo, compassado, medido e escrutinado e, afinal, fugaz.
Agita-se num violento meneio de cabeça esta poeira descomunal, esperando ver o brilho divino daquilo que é para sempre novo dentro de nós: as coisas, os lugares, quem se ama num sorriso que é inaugural e ingénuo em nós.
Há que viver os momentos, vivê-los sem margem para contá-los. Vivê-los, apenas sem assistir a eles do lado de fora, como se dentro de uma narração pardacenta, de nós para nós, sem a náusea da rotina e do tédio. 
Vale tanto a pena está viagem...