quarta-feira, 9 de julho de 2014

Um passeio à noite com as estrelas

Pára. Dentro de ti, cala todos os sons. O teu corpo em linha reta, movendo-se contra o vento. A noite fria ecoa no teu peito. As estrelas distantes criam uma estrada de sonhos até onde o teu olhar se move, para o céu e ainda mais além. Longe, um piar de coruja, fantasmagórico, aumenta a solidão do teu pulsar cardíaco. És tu e os elementos nesta hora tardia. É estranha a cidade à noite. Algumas pessoas passeiam os cães. Pára, volta para dentro de ti. Sente o vento a assobiar por entre o cabelo solto. Concentra-te. Uma orla de vazio: não pensas, não desejas, não respiras. Sente a flexão e a extensão das pernas, o rabo assente no selim duro. A pressão, a fricção, o cansaço. A noite imensa. E porém, há muito que não te sentias tão em casa. Atrás de ti, uma presença. O restolhar da roda que se sucede em círculos. Alguém que te segue. Não sabes se esta noite é a mesma que partilhas com ele. A mesma noite faz dois seres estranhos e diferentes. Pára, sente tudo, absorve tudo. Este é o teu momento. Dado ao mundo e às coisas. O teu espaço vazio já não é tão grande. És tu, agora. E o mundo foi um bálsamo. Olhar para dentro já não é um poço fundo. 


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