terça-feira, 15 de julho de 2014

Uma boa dose de faz de conta

Desejo uma bola de sabão transbordante entre os dedos, com uma força tênsil parecida com o infinito.  Uma pequena maravilha de impossíveis na palma da mão. Estender o braço e tocar o rasto de um avião branco que risca o céu azul. Deve saber a algodão doce, a coisas leves, como espuma que se desfaz na areia. Quero o som das ondas dentro de uma casca de noz. Quero ouvir a campainha... à porta deve estar um bouquet de balões de todas as cores. Alguém os segura e os solta, levemente no ar, e eu fico a vê-los subir, de boca aberta, com um fio de saliva a gotejar do queixo.
Amanhã, quero acordar no cimo de uma montanha com a minha música preferida a tocar. Irei gritar e ouvir o meu eco a desfazer-se contra as encostas e sentir a liberdade como uma coisa que nos preenche por completo. Não sei se será a liberdade ou a única sensação verdadeira: sentir-se vivo.
Quero hoje fechar os olhos com força, abri-los em seguida, mesmo a tempo de ver um girassol a rodar ao sol. Ao longe, de certeza que escuto risos de crianças e corridas loucas de cavalos. Um cão a latir alegre ao fundo. O regresso de alguém amado. A saudade que se encontra no caminho...
Páro. Reparo que resvalei do faz de conta para coisas que contam, que acontecem simplesmente e não damos por isso. Será a realidade afinal o sonho? Quero antes uma dose de faz de conta, mas daquele tipo que acontece mesmo. Páro de novo. Reflito. 

Quero uns óculos mágicos para não perder um só segundo da impossibilidade maravilhosa que é a Vida. 


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